Segundo estudo norte americano publicado esse mês na Revista JAMA Oncology, pacientes com câncer (independente do tipo) recém diagnosticado tem alto risco de ter hepatites B e C, o que sugere que essas doenças devem ser investigadas em todo paciente oncológico.
Dos 3.051 pacientes que tiveram o diagnóstico de câncer, 2,4% apresentavam hepatite C, 0,6% hepatite B crônica e ainda 1,1% tinham infecção pelo HIV. Como o tratamento do câncer pode levar a ativação e complicação relacionada às hepatites, os autores recomendam que as sorologias sejam realizadas em todos os pacientes.
Além disso, e talvez mais importante, observou-se que 6,5% dos pacientes tinham cicatriz sorológica para hepatite B. Chamamos de cicatriz sorológica quando a pessoa adquire a infecção pelo vírus B e o sistema imunológico reage, resolvendo a hepatite em cerca de 90% das pessoas, que ficam com os anticorpos circulando no sangue geralmente por toda a vida, podendo ser detectados em exames (daí chamarmos de “cicatriz”).

“Ciclo de vida” do vírus da hepatite B. No interior dos hepatócitos, o DNA do vírus forma uma estrutura circular chamada cccDNA que pode permanecer inativa por toda a vida, até que a imunidade do hospedeiro esteja prejudicada para então se desfazer e voltar a se multiplicar. Existem várias propostas de tratamento para eliminar esse problema, mas por enquanto o que temos de concreto é diagnosticar e tratar com antiviral quem sorologia positiva terá a imunidade severamente prejudicada.
A infecção, no entanto, geralmente não desaparece. Como o vírus da hepatite B é do tipo DNA, ele entra nas células do fígado e se “esconde” deixando seu código genético. Enquanto a imunidade está bem, esses vírus não conseguem se multiplicar e desenvolver doença, pois se aparecerem os anticorpos eliminam a célula onde eles estavam. Mesmo assim, existe o vírus e é por isso que quem já teve hepatite B não pode doar sangue ou órgãos.
Se essa pessoa tem diagnóstico de algum câncer e precisa fazer quimioterapia, o tratamento pode prejudicar o sistema imunológico e os anticorpos não estarão lá para controlar o vírus, podendo levar a um quadro de hepatite aguda, que pode ser grave, ou a hepatite crônica que pode lesar gradualmente o fígado até chegar a cirrose. Por esse motivo, quem tem hepatite B, ou mesmo a cicatriz sorológica, precisa tomar medicamentos contra o vírus. O mesmo para quem tem AIDS, doenças que afetam o sistema imunológico ou precisa tomar imunossupressores por outras doenças.
Mesmo que esses números não pareçam tão altos, as complicações adversas de não se diagnosticar a hepatite são importantes o suficiente para justificar a sua investigação em todos os pacientes com câncer.
Categorias:News