
Esporte é saúde, mas tem seus riscos. Em relação ao fígado, a atividade física ajuda a emagrecer, reduzir a esteatose (gordura no fígado), melhora o bem estar, a manter a massa muscular em portadores de cirrose e pode até ajudar no tratamento de outras doenças crônicas. Mas excessos e, principalmente, suplementos, podem fazer mais mal do que bem.
Segundo Hassan e Fontana, médicos pesquisadores da Universidade de Michigan (EUA) que avaliaram dezenas de artigos sobre lesões no fígado associados a atividades esportivas, a atividade física intensa pode causar lesão por insolação, levando até a falência do fígado em casos mais graves. No levantamento, foram identificados 8 casos de insuficiência hepática aguda por insolação nos EUA, um deles precisando de transplante.

Mas, de longe, o maior risco identificado ao fígado foi o de hepatite tóxica por suplementos, incluindo os de ganho de massa muscular, vitaminas, “shakes” e ervas. A grosso modo, Hassan e Fontana separaram esses suplementos entre “ganho de massa” (bodybuilding) e “emagrecedores”.
A maior parte dos suplementos de aumento de massa muscular que causam lesão no fígado são os “contaminados” por anabolizantes. “Contaminados”, claro, é um termo muito inocente para fabricantes que procuram aumentar a eficácia dos seus produtos colocando escondidos hormônios anabolizantes e não declarando nas embalagens. Esses hormônios causam diversos padrões de lesão ao fígado, sendo mais graves os que cursam com icterícia (lesões colestáticas) e que tem maior risco de evoluir com insuficiência dos rins e necessidade de transplante hepático.

Em relação às lesões de fígado causadas por emagrecedores, os pesquisadores encontraram uma grande variação entre produtos, sendo que na maioria dos casos o paciente tomava mais de um suplemento ao mesmo tempo. O maior responsável por esse tipo de lesão é o extrato de chá verde, que pode ser ingerido sozinho ou em conjunto com até dezenas de outros componentes.

Infelizmente, a grande maioria dos consumidores desses produtos não contam para os seus médicos que estão tomando suplementos – talvez porque desconheçam o risco e achem a informação irrelevante, talvez escondam a informação para não “ouvirem sermão”. Isso resulta em doenças que poderiam ser diagnosticadas a tempo, além de outras que ficam sem diagnóstico ou tratamento por falta de informações.

Cabe ao governo e as entidades médicas divulgarem os riscos, e às autoridades sanitárias investigar produtos que podem estar adulterados. Com o esforço conjunto, podemos minimizar muito esses problemas que podem ser até fatais.
Fonte: Hassan, A e Fontana, R. Liver Injury Associated with Sporting Activities. Semin Liver Dis 2018; 38(04): 357-365 DOI: 10.1055/s-0038-1670656
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