Em artigo publicado online esse mês no Journal of Clinical Oncology, membros da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) recomendam que todos os pacientes com câncer que serão submetidos a quimioterapia devem realizar exames para hepatite B e, se positivo, receber antivirais imediatamente e até 12 meses após o final da quimioterapia.
Isso porque, ao contrários das hepatites A e C, o nosso organismo não consegue eliminar completamente o vírus da hepatite B. Como é um vírus do tipo DNA, o material genético dele entra nas células do fígado e pode ficar lá “dormente” por toda a vida.

Evolução da hepatite B reativada pela quimioterapia. O vírus volta a se multiplicar e a destruir células do fígado. Dependendo do caso, a destruição pode ser intensa, levando ao quadro de hepatite B aguda com icterícia e, em casos mais graves, hepatite fulminante com óbito. Mesmo quando não evolui com o óbito, a hepatite pode persistir após a quimioterapia e chegar até a cirrose. Com o tratamento, no entanto, a melhora é evidente. Melhor ainda é quando a presença do vírus é detectada com antecedência, o antiviral é introduzido e o vírus nem chega a se reativar. Fonte.
Na grande maioria (mais de 90%) das pessoas que adquirem o vírus, o sistema imunológico desenvolve anticorpos que eliminam as células infectadas que estão multiplicando o vírus, levando à cura da doença. As células onde o vírus está inativo, no entanto, ficam ilesas. Em situações normais, se um desses vírus “acorda”, os anticorpos eliminam a célula e o problema se resolve sozinho.

Normalmente, sobra um pouco de DNA inativo do vírus da hepatite B nas células do fígado quando a pessoa adquire imunidade. Enquanto o sistema imunológico está bom, se um desses DNAs decide “acordar”, o sistema imune destrói a célula e impede que ele se espalhe. Em alguns tipos (não todos) de quimioterapia, o sistema imunológico fica comprometido e o vírus pode voltar a se multiplicar. Fonte.
Nas pessoas que são submetidas a quimioterapia, no entanto, o sistema imunológico pode ser comprometido. Se um vírus entra em atividade e começa a se multiplicar, não há anticorpos para interromper o processo, daí além do câncer o paciente pode desenvolver hepatite B aguda (que pode ser muito grave) ou evoluir para cirrose.
Felizmente, a solução é simples: basta incluir exames para hepatite B (HBsAg, antiHBc e antiHBs) nos exames pré quimioterapia. Se positivos, o paciente recebe antivirais (que no Brasil são oferecidos gratuitamente pelo SUS) durante e após o tratamento para evitar essa complicação.
Além do discutido no artigo, vale lembrar que a reativação do vírus também pode ocorrer em outros tratamentos que comprometem o sistema imunológico, como o uso de imunossupressores em doenças autoimunes, cabendo rastreamento e tratamento preventivo também.
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